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Publicado
David Marques
Fundador e Administrador Executivo da Detailsmind
Autor da entrevista | Anteprojectos
1. Como é que a Detailsmind está a preparar-se para enfrentar as mudanças no setor imobiliário e de construção em relação à sustentabilidade e inovação digital?
De facto, há uma grande preocupação em acompanhar as novas tendências e tudo aquilo que de bom se pode e deve implementar na nossa organização em termos de inovação. Estivemos em outubro do ano passado na Batimat e, mais recentemente em Janeiro, na BAU em Munique com o propósito de desenvolver contactos com novos parceiros, conhecer as novas tecnologias e tendências do sector, e aprofundar o nosso entendimento do mercado, concorrência e expectativas naquilo que diz respeito à construção off-site, a industrialização da construção, a construção híbrida, impressão 3D, a utilização de técnicas e materiais com pegada ecológica neutra ou negativa, e ao uso da inteligência artificial nos diversos campos da nossa actividade e organização.
Por exemplo, já temos programado formar as nossas equipas de preparadores para dominar a tecnologia BIM e capacitá-los para os desafios dos novos projectos.
Olhamos atentamente para tudo aquilo que se faz, e poderá fazer, com a Inteligência Artificial e perceber até onde pode ir o seu campo de actuação.
À data temos em desenvolvimento a primeira obra em Portugal em que a estrutura é integralmente construída com betão Verdi Zero da Secil, neutro em carbono, um produto inovador e sustentável que vem ao encontro dos objetivos para atingir a neutralidade carbónica da indústria cimenteira em 2050 e da necessária descarbonização do setor da construção.
2. Quais são as principais tendências de mercado que acredita que irão moldar o setor de construção nos próximos cinco anos?
Estamos em pleno na era da Indústria 6.0 que eleva a automatização e a inteligência dos sistemas de produção a um novo patamar. Na era da Inteligência Artificial, a Internet das Coisas (IoT), da computação em cloud, do big data, da integração humano-robô, da computação quântica, da impressão 3D, da realidade aumentada, do Business Intelligence, e da domótica.
Acredito profundamente que a Inteligência Artificial trará consigo uma evolução disruptiva sobretudo nos departamentos comerciais e de preparação de obra.
A preparação do aprovisionamento das empreitadas, o planeamento, a elaboração dos orçamentos e, outras actividades e funções, serão rapidamente ultrapassadas pela IA.
A aposta na construção de madeira, ou construção híbrida, é outro caminho que já se segue e verifica nos projectos. Como já referi no passado, a construção híbrida permite uma redução de pelo menos 40% da utilização de betão e a utilização de madeira, um sequestrador de carbono natural. As estruturas de madeiras têm uma maior eficiência energética e uma pegada ecológica neutra ou negativa.
O investimento em formação e conhecimento também eles são o motor da inovação.
Organizações do futuro deverão ser ágeis e ainda mais resilientes, e a pandemia e guerra vieram demonstrar essa importância.
3. De que forma as mudanças regulatórias recentes têm impactado o mercado, e como é que a Detailsmind tem adaptado as suas estratégias para se alinhar a estas novas exigências?
Nos últimos tempos, as mudanças regulatórias têm impactado significativamente o mercado da construção em Portugal, refletindo uma tendência de maior rigor em áreas como sustentabilidade, licenciamento, como é o Simplex, e normas de segurança.
Continuamos a verificar que o IVA não é dedutível na promoção imobiliária e que o IMI incide apenas sobre terrenos residenciais. Isso representa apenas mais uma maneira de arrecadar receita.
Há falta de investimento no setor de arrendamento habitacional, especialmente através de incentivos de financiamento a longo prazo para empresas de construção. Para que Portugal cresça, o desenvolvimento do parque habitacional deve envolver Fundos de Pensões, por exemplo, já que os bancos não financiam este tipo de investimento. Para isso, é essencial criar condições atrativas para esses fundos. Não há investimento suficiente para recuperar as cidades; temos de aproveitar o investimento estrangeiro.
Este contexto reforça a nossa aposta no cliente particular estrangeiro, um segmento que exige um esforço comercial contínuo devido à necessária renovação da carteira de clientes. Atualmente, o nosso foco incide maioritariamente em clientes internacionais com elevado poder aquisitivo, que procuram investir em residências de alto padrão para uso próprio. Os promotores representam uma parcela mais restrita do nosso portfólio.
4. Pode explicar como é que a colaboração entre arquitetos, urbanistas e especialistas em legislação pode contribuir para um desenvolvimento urbano mais sustentável?
Ao trabalhar em conjunto desde o início do projeto, estes profissionais podem identificar maneiras de otimizar o uso de materiais e energia, como implementar tecnologias sustentáveis de construção e design que minimizem o desperdício e reduzam a pegada ecológica.
Os especialistas em legislação podem ajudar a moldar políticas que incentivem práticas de construção sustentável, enquanto arquitetos e urbanistas podem oferecer insights sobre a viabilidade dessas políticas na prática, garantindo que elas sejam aplicáveis e eficazes.
5. De que forma a Detailsmind tem promovido o diálogo entre a Ordem dos Arquitetos e outros stakeholders do urbanismo para garantir projetos mais harmoniosos e eficientes?
Um dos exemplos mais relevantes de promoção do diálogo entre a Ordem dos Arquitetos e outros stakeholders do urbanismo foi o webinar sobre o Simplex Urbanístico, realizado em maio do ano passado. O evento contou com a participação do presidente da Ordem dos Arquitetos, Arquiteto Avelino Oliveira, proporcionando um espaço de debate aprofundado sobre este novo mecanismo.
Ao reunir profissionais de arquitetura, autoridades locais e outros agentes do setor, criámos uma oportunidade para explorar o impacto do Simplex Urbanístico e fortalecer relações entre as partes envolvidas. Através de iniciativas como esta, fomentamos um urbanismo mais colaborativo, transparente e eficiente.
6. Pode partilhar detalhes sobre os projetos mais inovadores atualmente em curso na Detailsmind e como é que refletem o compromisso da empresa com a qualidade e a inovação?
Mais de 70% dos nossos projetos são moradias de luxo, desenvolvidas com um elevado nível de exclusividade e ambição. Nestes projetos, o detalhe é a prioridade e a exigência mantém-se constante em todas as fases do processo e ao longo da cadeia de valor.
Aliás, o critério de seleção das empresas consultadas e contratadas é raramente o preço, mas, em contrapartida, a qualidade do nosso produto e serviço, a solidez financeira da nossa empresa, e a experiência dos nossos quadros. É assim que a grande maioria dos nossos clientes mede a qualidade da nossa empresa, e avalia a nossa capacidade. São estas as expectativas que temos a gerir.
É também por isso que procuramos sempre captar e reter os melhores técnicos e, com os melhores, implementar e repensar constantemente os nossos métodos e procedimentos de trabalho. É um processo contínuo e evolutivo.
A inovação resulta naturalmente deste processo evolutivo e ainda da ambição e desafios que os nossos projectos exclusivos nos colocam.
Procuramos, não só evoluir tecnicamente acompanhando as novas tendências em termos de materiais e formas de trabalhar, mas também na forma como comunicamos, na fiabilidade da informação que prestamos e nos reports que apresentamos, no uso de ferramentas de Business Intelligence e outras que garantam maiores eficiências e mais eficácia. É um processo de melhoria contínua.
Também sabemos que a inovação se faz de práticas contínuas de aprendizagem e formação, e ainda no investimento em tecnologia.
7. A reabilitação de edifícios históricos, como o Convento do Beato e o Palacete da Lapa, é um grande foco da Detailsmind. Como é que equilibram a preservação histórica com as necessidades modernas de funcionalidade e conforto?
Neste tipo de projectos há um critério comum: preservar o património e a história.
Garantir que os matérias e técnicas usadas não comprometem o legado destes edifícios, garantir que o restauro respeita a essência do elemento, quer ao nível da arquitectura e aspecto final, quer na metodologia e técnica definida. Em contrapartida, e nalguns casos, adoptamos medidas e processos contemporâneos que conseguem melhorar as condições do imóvel e perpetuam a sua vida útil, sem, contudo, comprometer a sua arquitectura.
Essa avaliação é feita, caso a caso, e debatida por vários técnicos desde arquitectos, arqueólogos e engenheiros numa estreita colaboração entre especialistas em património e o nosso quadro técnico garantiu que cada intervenção fosse realizada com a devida atenção à estrutura original e aos elementos arquitetónicos, preservando a autenticidade do edifício.
Por exemplo no restauro de carpintarias procuramos aproximar-nos daquilo que se fazia na época. Já no uso de argamassas, as técnicas e materiais actuais oferecem resultados melhores sem comprometer a história do património.
Todo este trabalho inicia-se obviamente na fase de projecto, e sempre que possível, com um estudo nos registos históricos visando recolher o máximo de conhecimento do imóvel e do seu estado inicial.
O cuidado na reabilitação do Convento do Beato é um exemplo de como é possível preservar o património cultural, adaptando-o para as necessidades do presente, e garantindo que este continue a desempenhar um papel relevante na sociedade futura.
8. O projeto Alba Lisboa tem sido um destaque recente. Quais foram os maiores desafios e aprendizagens na transformação de um antigo armazém em residências modernas, mantendo as suas características arquitetónicas originais?
No projecto ALBA os maiores desafios acabaram por ser os cuidados, a manutenção, a execução de diversas aberturas nas fachadas existentes e o revestimento das mesmas. Apenas as paredes periféricas do armazém foram mantidas tendo o seu interior sido demolido integralmente e realizada uma construção nova. Dado o tipo de paredes existentes, tivemos de recorrer a produtos/sistemas específicos de consolidação e acabamento à base de cal complementados com pintura de silicatos, tentando igualmente manter o mesmo aspecto visual dos edifícios envolventes.
Publicado
David Marques
Fundador e Administrador Executivo da Detailsmind
Autor da entrevista | Anteprojectos
1. Como é que a Detailsmind está a preparar-se para enfrentar as mudanças no setor imobiliário e de construção em relação à sustentabilidade e inovação digital?
De facto, há uma grande preocupação em acompanhar as novas tendências e tudo aquilo que de bom se pode e deve implementar na nossa organização em termos de inovação. Estivemos em outubro do ano passado na Batimat e, mais recentemente em Janeiro, na BAU em Munique com o propósito de desenvolver contactos com novos parceiros, conhecer as novas tecnologias e tendências do sector, e aprofundar o nosso entendimento do mercado, concorrência e expectativas naquilo que diz respeito à construção off-site, a industrialização da construção, a construção híbrida, impressão 3D, a utilização de técnicas e materiais com pegada ecológica neutra ou negativa, e ao uso da inteligência artificial nos diversos campos da nossa actividade e organização.
Por exemplo, já temos programado formar as nossas equipas de preparadores para dominar a tecnologia BIM e capacitá-los para os desafios dos novos projectos.
Olhamos atentamente para tudo aquilo que se faz, e poderá fazer, com a Inteligência Artificial e perceber até onde pode ir o seu campo de actuação.
À data temos em desenvolvimento a primeira obra em Portugal em que a estrutura é integralmente construída com betão Verdi Zero da Secil, neutro em carbono, um produto inovador e sustentável que vem ao encontro dos objetivos para atingir a neutralidade carbónica da indústria cimenteira em 2050 e da necessária descarbonização do setor da construção.
2. Quais são as principais tendências de mercado que acredita que irão moldar o setor de construção nos próximos cinco anos?
Estamos em pleno na era da Indústria 6.0 que eleva a automatização e a inteligência dos sistemas de produção a um novo patamar. Na era da Inteligência Artificial, a Internet das Coisas (IoT), da computação em cloud, do big data, da integração humano-robô, da computação quântica, da impressão 3D, da realidade aumentada, do Business Intelligence, e da domótica.
Acredito profundamente que a Inteligência Artificial trará consigo uma evolução disruptiva sobretudo nos departamentos comerciais e de preparação de obra.
A preparação do aprovisionamento das empreitadas, o planeamento, a elaboração dos orçamentos e, outras actividades e funções, serão rapidamente ultrapassadas pela IA.
A aposta na construção de madeira, ou construção híbrida, é outro caminho que já se segue e verifica nos projectos. Como já referi no passado, a construção híbrida permite uma redução de pelo menos 40% da utilização de betão e a utilização de madeira, um sequestrador de carbono natural. As estruturas de madeiras têm uma maior eficiência energética e uma pegada ecológica neutra ou negativa.
O investimento em formação e conhecimento também eles são o motor da inovação.
Organizações do futuro deverão ser ágeis e ainda mais resilientes, e a pandemia e guerra vieram demonstrar essa importância.
3. De que forma as mudanças regulatórias recentes têm impactado o mercado, e como é que a Detailsmind tem adaptado as suas estratégias para se alinhar a estas novas exigências?
Nos últimos tempos, as mudanças regulatórias têm impactado significativamente o mercado da construção em Portugal, refletindo uma tendência de maior rigor em áreas como sustentabilidade, licenciamento, como é o Simplex, e normas de segurança.
Continuamos a verificar que o IVA não é dedutível na promoção imobiliária e que o IMI incide apenas sobre terrenos residenciais. Isso representa apenas mais uma maneira de arrecadar receita.
Há falta de investimento no setor de arrendamento habitacional, especialmente através de incentivos de financiamento a longo prazo para empresas de construção. Para que Portugal cresça, o desenvolvimento do parque habitacional deve envolver Fundos de Pensões, por exemplo, já que os bancos não financiam este tipo de investimento. Para isso, é essencial criar condições atrativas para esses fundos. Não há investimento suficiente para recuperar as cidades; temos de aproveitar o investimento estrangeiro.
Este contexto reforça a nossa aposta no cliente particular estrangeiro, um segmento que exige um esforço comercial contínuo devido à necessária renovação da carteira de clientes. Atualmente, o nosso foco incide maioritariamente em clientes internacionais com elevado poder aquisitivo, que procuram investir em residências de alto padrão para uso próprio. Os promotores representam uma parcela mais restrita do nosso portfólio.
4. Pode explicar como é que a colaboração entre arquitetos, urbanistas e especialistas em legislação pode contribuir para um desenvolvimento urbano mais sustentável?
Ao trabalhar em conjunto desde o início do projeto, estes profissionais podem identificar maneiras de otimizar o uso de materiais e energia, como implementar tecnologias sustentáveis de construção e design que minimizem o desperdício e reduzam a pegada ecológica.
Os especialistas em legislação podem ajudar a moldar políticas que incentivem práticas de construção sustentável, enquanto arquitetos e urbanistas podem oferecer insights sobre a viabilidade dessas políticas na prática, garantindo que elas sejam aplicáveis e eficazes.
5. De que forma a Detailsmind tem promovido o diálogo entre a Ordem dos Arquitetos e outros stakeholders do urbanismo para garantir projetos mais harmoniosos e eficientes?
Um dos exemplos mais relevantes de promoção do diálogo entre a Ordem dos Arquitetos e outros stakeholders do urbanismo foi o webinar sobre o Simplex Urbanístico, realizado em maio do ano passado. O evento contou com a participação do presidente da Ordem dos Arquitetos, Arquiteto Avelino Oliveira, proporcionando um espaço de debate aprofundado sobre este novo mecanismo.
Ao reunir profissionais de arquitetura, autoridades locais e outros agentes do setor, criámos uma oportunidade para explorar o impacto do Simplex Urbanístico e fortalecer relações entre as partes envolvidas. Através de iniciativas como esta, fomentamos um urbanismo mais colaborativo, transparente e eficiente.
6. Pode partilhar detalhes sobre os projetos mais inovadores atualmente em curso na Detailsmind e como é que refletem o compromisso da empresa com a qualidade e a inovação?
Mais de 70% dos nossos projetos são moradias de luxo, desenvolvidas com um elevado nível de exclusividade e ambição. Nestes projetos, o detalhe é a prioridade e a exigência mantém-se constante em todas as fases do processo e ao longo da cadeia de valor.
Aliás, o critério de seleção das empresas consultadas e contratadas é raramente o preço, mas, em contrapartida, a qualidade do nosso produto e serviço, a solidez financeira da nossa empresa, e a experiência dos nossos quadros. É assim que a grande maioria dos nossos clientes mede a qualidade da nossa empresa, e avalia a nossa capacidade. São estas as expectativas que temos a gerir.
É também por isso que procuramos sempre captar e reter os melhores técnicos e, com os melhores, implementar e repensar constantemente os nossos métodos e procedimentos de trabalho. É um processo contínuo e evolutivo.
A inovação resulta naturalmente deste processo evolutivo e ainda da ambição e desafios que os nossos projectos exclusivos nos colocam.
Procuramos, não só evoluir tecnicamente acompanhando as novas tendências em termos de materiais e formas de trabalhar, mas também na forma como comunicamos, na fiabilidade da informação que prestamos e nos reports que apresentamos, no uso de ferramentas de Business Intelligence e outras que garantam maiores eficiências e mais eficácia. É um processo de melhoria contínua.
Também sabemos que a inovação se faz de práticas contínuas de aprendizagem e formação, e ainda no investimento em tecnologia.
7. A reabilitação de edifícios históricos, como o Convento do Beato e o Palacete da Lapa, é um grande foco da Detailsmind. Como é que equilibram a preservação histórica com as necessidades modernas de funcionalidade e conforto?
Neste tipo de projectos há um critério comum: preservar o património e a história.
Garantir que os matérias e técnicas usadas não comprometem o legado destes edifícios, garantir que o restauro respeita a essência do elemento, quer ao nível da arquitectura e aspecto final, quer na metodologia e técnica definida. Em contrapartida, e nalguns casos, adoptamos medidas e processos contemporâneos que conseguem melhorar as condições do imóvel e perpetuam a sua vida útil, sem, contudo, comprometer a sua arquitectura.
Essa avaliação é feita, caso a caso, e debatida por vários técnicos desde arquitectos, arqueólogos e engenheiros numa estreita colaboração entre especialistas em património e o nosso quadro técnico garantiu que cada intervenção fosse realizada com a devida atenção à estrutura original e aos elementos arquitetónicos, preservando a autenticidade do edifício.
Por exemplo no restauro de carpintarias procuramos aproximar-nos daquilo que se fazia na época. Já no uso de argamassas, as técnicas e materiais actuais oferecem resultados melhores sem comprometer a história do património.
Todo este trabalho inicia-se obviamente na fase de projecto, e sempre que possível, com um estudo nos registos históricos visando recolher o máximo de conhecimento do imóvel e do seu estado inicial.
O cuidado na reabilitação do Convento do Beato é um exemplo de como é possível preservar o património cultural, adaptando-o para as necessidades do presente, e garantindo que este continue a desempenhar um papel relevante na sociedade futura.
8. O projeto Alba Lisboa tem sido um destaque recente. Quais foram os maiores desafios e aprendizagens na transformação de um antigo armazém em residências modernas, mantendo as suas características arquitetónicas originais?
No projecto ALBA os maiores desafios acabaram por ser os cuidados, a manutenção, a execução de diversas aberturas nas fachadas existentes e o revestimento das mesmas. Apenas as paredes periféricas do armazém foram mantidas tendo o seu interior sido demolido integralmente e realizada uma construção nova. Dado o tipo de paredes existentes, tivemos de recorrer a produtos/sistemas específicos de consolidação e acabamento à base de cal complementados com pintura de silicatos, tentando igualmente manter o mesmo aspecto visual dos edifícios envolventes.
Publicado
David Marques
Fundador e Administrador Executivo da Detailsmind
Autor da entrevista | Anteprojectos
1. Como é que a Detailsmind está a preparar-se para enfrentar as mudanças no setor imobiliário e de construção em relação à sustentabilidade e inovação digital?
De facto, há uma grande preocupação em acompanhar as novas tendências e tudo aquilo que de bom se pode e deve implementar na nossa organização em termos de inovação. Estivemos em outubro do ano passado na Batimat e, mais recentemente em Janeiro, na BAU em Munique com o propósito de desenvolver contactos com novos parceiros, conhecer as novas tecnologias e tendências do sector, e aprofundar o nosso entendimento do mercado, concorrência e expectativas naquilo que diz respeito à construção off-site, a industrialização da construção, a construção híbrida, impressão 3D, a utilização de técnicas e materiais com pegada ecológica neutra ou negativa, e ao uso da inteligência artificial nos diversos campos da nossa actividade e organização.
Por exemplo, já temos programado formar as nossas equipas de preparadores para dominar a tecnologia BIM e capacitá-los para os desafios dos novos projectos.
Olhamos atentamente para tudo aquilo que se faz, e poderá fazer, com a Inteligência Artificial e perceber até onde pode ir o seu campo de actuação.
À data temos em desenvolvimento a primeira obra em Portugal em que a estrutura é integralmente construída com betão Verdi Zero da Secil, neutro em carbono, um produto inovador e sustentável que vem ao encontro dos objetivos para atingir a neutralidade carbónica da indústria cimenteira em 2050 e da necessária descarbonização do setor da construção.
2. Quais são as principais tendências de mercado que acredita que irão moldar o setor de construção nos próximos cinco anos?
Estamos em pleno na era da Indústria 6.0 que eleva a automatização e a inteligência dos sistemas de produção a um novo patamar. Na era da Inteligência Artificial, a Internet das Coisas (IoT), da computação em cloud, do big data, da integração humano-robô, da computação quântica, da impressão 3D, da realidade aumentada, do Business Intelligence, e da domótica.
Acredito profundamente que a Inteligência Artificial trará consigo uma evolução disruptiva sobretudo nos departamentos comerciais e de preparação de obra.
A preparação do aprovisionamento das empreitadas, o planeamento, a elaboração dos orçamentos e, outras actividades e funções, serão rapidamente ultrapassadas pela IA.
A aposta na construção de madeira, ou construção híbrida, é outro caminho que já se segue e verifica nos projectos. Como já referi no passado, a construção híbrida permite uma redução de pelo menos 40% da utilização de betão e a utilização de madeira, um sequestrador de carbono natural. As estruturas de madeiras têm uma maior eficiência energética e uma pegada ecológica neutra ou negativa.
O investimento em formação e conhecimento também eles são o motor da inovação.
Organizações do futuro deverão ser ágeis e ainda mais resilientes, e a pandemia e guerra vieram demonstrar essa importância.
3. De que forma as mudanças regulatórias recentes têm impactado o mercado, e como é que a Detailsmind tem adaptado as suas estratégias para se alinhar a estas novas exigências?
Nos últimos tempos, as mudanças regulatórias têm impactado significativamente o mercado da construção em Portugal, refletindo uma tendência de maior rigor em áreas como sustentabilidade, licenciamento, como é o Simplex, e normas de segurança.
Continuamos a verificar que o IVA não é dedutível na promoção imobiliária e que o IMI incide apenas sobre terrenos residenciais. Isso representa apenas mais uma maneira de arrecadar receita.
Há falta de investimento no setor de arrendamento habitacional, especialmente através de incentivos de financiamento a longo prazo para empresas de construção. Para que Portugal cresça, o desenvolvimento do parque habitacional deve envolver Fundos de Pensões, por exemplo, já que os bancos não financiam este tipo de investimento. Para isso, é essencial criar condições atrativas para esses fundos. Não há investimento suficiente para recuperar as cidades; temos de aproveitar o investimento estrangeiro.
Este contexto reforça a nossa aposta no cliente particular estrangeiro, um segmento que exige um esforço comercial contínuo devido à necessária renovação da carteira de clientes. Atualmente, o nosso foco incide maioritariamente em clientes internacionais com elevado poder aquisitivo, que procuram investir em residências de alto padrão para uso próprio. Os promotores representam uma parcela mais restrita do nosso portfólio.
4. Pode explicar como é que a colaboração entre arquitetos, urbanistas e especialistas em legislação pode contribuir para um desenvolvimento urbano mais sustentável?
Ao trabalhar em conjunto desde o início do projeto, estes profissionais podem identificar maneiras de otimizar o uso de materiais e energia, como implementar tecnologias sustentáveis de construção e design que minimizem o desperdício e reduzam a pegada ecológica.
Os especialistas em legislação podem ajudar a moldar políticas que incentivem práticas de construção sustentável, enquanto arquitetos e urbanistas podem oferecer insights sobre a viabilidade dessas políticas na prática, garantindo que elas sejam aplicáveis e eficazes.
5. De que forma a Detailsmind tem promovido o diálogo entre a Ordem dos Arquitetos e outros stakeholders do urbanismo para garantir projetos mais harmoniosos e eficientes?
Um dos exemplos mais relevantes de promoção do diálogo entre a Ordem dos Arquitetos e outros stakeholders do urbanismo foi o webinar sobre o Simplex Urbanístico, realizado em maio do ano passado. O evento contou com a participação do presidente da Ordem dos Arquitetos, Arquiteto Avelino Oliveira, proporcionando um espaço de debate aprofundado sobre este novo mecanismo.
Ao reunir profissionais de arquitetura, autoridades locais e outros agentes do setor, criámos uma oportunidade para explorar o impacto do Simplex Urbanístico e fortalecer relações entre as partes envolvidas. Através de iniciativas como esta, fomentamos um urbanismo mais colaborativo, transparente e eficiente.
6. Pode partilhar detalhes sobre os projetos mais inovadores atualmente em curso na Detailsmind e como é que refletem o compromisso da empresa com a qualidade e a inovação?
Mais de 70% dos nossos projetos são moradias de luxo, desenvolvidas com um elevado nível de exclusividade e ambição. Nestes projetos, o detalhe é a prioridade e a exigência mantém-se constante em todas as fases do processo e ao longo da cadeia de valor.
Aliás, o critério de seleção das empresas consultadas e contratadas é raramente o preço, mas, em contrapartida, a qualidade do nosso produto e serviço, a solidez financeira da nossa empresa, e a experiência dos nossos quadros. É assim que a grande maioria dos nossos clientes mede a qualidade da nossa empresa, e avalia a nossa capacidade. São estas as expectativas que temos a gerir.
É também por isso que procuramos sempre captar e reter os melhores técnicos e, com os melhores, implementar e repensar constantemente os nossos métodos e procedimentos de trabalho. É um processo contínuo e evolutivo.
A inovação resulta naturalmente deste processo evolutivo e ainda da ambição e desafios que os nossos projectos exclusivos nos colocam.
Procuramos, não só evoluir tecnicamente acompanhando as novas tendências em termos de materiais e formas de trabalhar, mas também na forma como comunicamos, na fiabilidade da informação que prestamos e nos reports que apresentamos, no uso de ferramentas de Business Intelligence e outras que garantam maiores eficiências e mais eficácia. É um processo de melhoria contínua.
Também sabemos que a inovação se faz de práticas contínuas de aprendizagem e formação, e ainda no investimento em tecnologia.
7. A reabilitação de edifícios históricos, como o Convento do Beato e o Palacete da Lapa, é um grande foco da Detailsmind. Como é que equilibram a preservação histórica com as necessidades modernas de funcionalidade e conforto?
Neste tipo de projectos há um critério comum: preservar o património e a história.
Garantir que os matérias e técnicas usadas não comprometem o legado destes edifícios, garantir que o restauro respeita a essência do elemento, quer ao nível da arquitectura e aspecto final, quer na metodologia e técnica definida. Em contrapartida, e nalguns casos, adoptamos medidas e processos contemporâneos que conseguem melhorar as condições do imóvel e perpetuam a sua vida útil, sem, contudo, comprometer a sua arquitectura.
Essa avaliação é feita, caso a caso, e debatida por vários técnicos desde arquitectos, arqueólogos e engenheiros numa estreita colaboração entre especialistas em património e o nosso quadro técnico garantiu que cada intervenção fosse realizada com a devida atenção à estrutura original e aos elementos arquitetónicos, preservando a autenticidade do edifício.
Por exemplo no restauro de carpintarias procuramos aproximar-nos daquilo que se fazia na época. Já no uso de argamassas, as técnicas e materiais actuais oferecem resultados melhores sem comprometer a história do património.
Todo este trabalho inicia-se obviamente na fase de projecto, e sempre que possível, com um estudo nos registos históricos visando recolher o máximo de conhecimento do imóvel e do seu estado inicial.
O cuidado na reabilitação do Convento do Beato é um exemplo de como é possível preservar o património cultural, adaptando-o para as necessidades do presente, e garantindo que este continue a desempenhar um papel relevante na sociedade futura.
8. O projeto Alba Lisboa tem sido um destaque recente. Quais foram os maiores desafios e aprendizagens na transformação de um antigo armazém em residências modernas, mantendo as suas características arquitetónicas originais?
No projecto ALBA os maiores desafios acabaram por ser os cuidados, a manutenção, a execução de diversas aberturas nas fachadas existentes e o revestimento das mesmas. Apenas as paredes periféricas do armazém foram mantidas tendo o seu interior sido demolido integralmente e realizada uma construção nova. Dado o tipo de paredes existentes, tivemos de recorrer a produtos/sistemas específicos de consolidação e acabamento à base de cal complementados com pintura de silicatos, tentando igualmente manter o mesmo aspecto visual dos edifícios envolventes.