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Publicado
Paulo Vila Verde
ARQUITECTO - INQUIETUDE ARQUITETURA
Participei há dias numa conferência que abordou a eficiência e a sustentabilidade do edifício à cidade, mas principalmente sobre pessoas e a qualidade das suas vidas e das atmosferas com que convivem. Fruto desse exercício, registo aqui algumas dessas reflexões.
Talvez o tema não esteja no ser sustentável, mas sim porque tem de o ser. Se tem de o ser é porque sabemos, à partida, que a solução consome demasiados recursos. Então porque não reduzir? Porque somos permanentemente incentivados, seja por regulamentos e pela própria sociedade, a consumir soluções tectónicas e tecnológicas.
Certo é, para que essa redução aconteça terá de existir uma vincada alteração de mentalidade pública, fazendo sentido o célebre “menos é mais”.
Mas porque tudo passou a ser maior? As casas, os espaços públicos, as infraestruturas, a cidade? Talvez a resposta esteja no modernismo rezado pela Carta de Atenas que promoveu uma ampla cidade, rejeitando a escala humana e onde tudo se sectorizou por funções, resultando na organização afastada das ações da cidade e acabando por fomentar a sua motorização para convenientemente se viajar entre pontos, fazendo os carros felizes. Surgiu talvez aqui a raiz do problema da sustentabilidade dos nossos dias.
A cidade passou a ser constituída por vias rápidas entre funções, espaços monofuncionais e grandes áreas de aglutinação automóvel, impondo o grande consumo de recursos, seja ele na produção das mega infraestruturas necessárias à mobilidade ou na permanente motorização das deslocações. Ou seja, se a cidade fosse uma habitação teria mais corredores longos do que áreas úteis onde se come, descansa ou socializa.
Se pensarmos no cerne da sustentabilidade concluímos o básico, o necessário, e a resolução em soluções pensadas à escala humana. Porém o “básico” leva-nos a abordar o ego do mercado, onde o “básico” não faz brilhar a solução, não promovendo o destaque do arquiteto ou do promotor numa capa de revista, o que por sua vez irá encher de orgulho os promitentes compradores ou utilizadores.
O termo “sustentabilidade” passou a ser marketing territorial e no edifício passou a ser carimbo de qualidade, publicitando-se recorrentemente a sustentabilidade da habitação justificada pela “classificação energética A” e apregoando-se de seguida uma parafernália de equipamentos. Contudo estas introduções serão uma problemática no futuro das habitações dos novos bairros sociais ou de custo controlado. Poderão as famílias sustentar tais soluções, manutenções, obsolescências ou substituições próprias do passar dos tempos?
Problema é também o isolamento excessivo das habitações, passando a lhes ser exigidas “furações” de ventilação ou sistemas mecânicos para o efeito. As habitações encontram-se doentes pelas imposições normativas, levando-nos a questionar se a abundância de equipamentos e soluções construtivas serão um caminho sustentável.
Com o desenvolvimento de cálculos de carbono e descarbonização para justificar e temporizar, estamos a assumir o erro, porque sabemos à partida que é um excesso, caso contrário não faria sentido tal cálculo argumentativo. Benéfico é ponderarmos, consciencializarmos e enraizarmos que tudo vem de longe e de diversas direções, incorporando uma
marcante pegada ecológica em todas as fases do processo até à entrega final. Logo, quanto mais enquadrada for a solução à real necessidade e escala humana, menor será o volume em percurso e o respetivo custo ecológico, podendo estar aqui um importante passo na direção da sustentabilidade, devidamente enquadrado com um desenho de estratégia passiva.
Muitas dessas lições podem ser encontradas na arquitetura vernácula, ou popular, onde incorporavam materiais e soluções tendo em conta a economia de recursos, tanto na construção como na vida do edifício, resultado de épocas de pobreza. Atualmente tudo temos ao nosso dispor, mas a que preço? Será consciente e necessário tanto assim?
E esta lógica é transversal à cidade. O arquiteto urbanista Jan Gehl defendia a “vida entre edifícios”, porém a estrutura da cidade atual veio comprovar que afinal os edifícios é que estão entre a vida, desumanizando-a e impondo-lhe uma escala elástica até aos limites máximos possíveis.
Esta falta de humanização e a escala excessiva rompem a atmosfera e com ela a sustentabilidade emocional que se reflete na desapropriação e falta de identidade. E a sustentabilidade diária da cidade, em todas as suas escalas, depende da atitude das pessoas, necessitando de ser caminhada para ser vivida.
Todo o conceito de sustentabilidade pessoal, habitacional e da urbe depende da mudança de mentalidade e da essência da forma de estar e viver. As patologias não se resolvem com placebos ou soluções que se esperam milagrosas e as decorações verdes aleatórias mais não são do que cirurgias estéticas, decorando apenas o problema, tornando-o mais atrativo ao olhar. Permanecemos assim numa troca de peças de uma engrenagem que realmente tarda em ser substituída.
Publicado
Paulo Vila Verde
ARQUITECTO - INQUIETUDE ARQUITETURA
Participei há dias numa conferência que abordou a eficiência e a sustentabilidade do edifício à cidade, mas principalmente sobre pessoas e a qualidade das suas vidas e das atmosferas com que convivem. Fruto desse exercício, registo aqui algumas dessas reflexões.
Talvez o tema não esteja no ser sustentável, mas sim porque tem de o ser. Se tem de o ser é porque sabemos, à partida, que a solução consome demasiados recursos. Então porque não reduzir? Porque somos permanentemente incentivados, seja por regulamentos e pela própria sociedade, a consumir soluções tectónicas e tecnológicas.
Certo é, para que essa redução aconteça terá de existir uma vincada alteração de mentalidade pública, fazendo sentido o célebre “menos é mais”.
Mas porque tudo passou a ser maior? As casas, os espaços públicos, as infraestruturas, a cidade? Talvez a resposta esteja no modernismo rezado pela Carta de Atenas que promoveu uma ampla cidade, rejeitando a escala humana e onde tudo se sectorizou por funções, resultando na organização afastada das ações da cidade e acabando por fomentar a sua motorização para convenientemente se viajar entre pontos, fazendo os carros felizes. Surgiu talvez aqui a raiz do problema da sustentabilidade dos nossos dias.
A cidade passou a ser constituída por vias rápidas entre funções, espaços monofuncionais e grandes áreas de aglutinação automóvel, impondo o grande consumo de recursos, seja ele na produção das mega infraestruturas necessárias à mobilidade ou na permanente motorização das deslocações. Ou seja, se a cidade fosse uma habitação teria mais corredores longos do que áreas úteis onde se come, descansa ou socializa.
Se pensarmos no cerne da sustentabilidade concluímos o básico, o necessário, e a resolução em soluções pensadas à escala humana. Porém o “básico” leva-nos a abordar o ego do mercado, onde o “básico” não faz brilhar a solução, não promovendo o destaque do arquiteto ou do promotor numa capa de revista, o que por sua vez irá encher de orgulho os promitentes compradores ou utilizadores.
O termo “sustentabilidade” passou a ser marketing territorial e no edifício passou a ser carimbo de qualidade, publicitando-se recorrentemente a sustentabilidade da habitação justificada pela “classificação energética A” e apregoando-se de seguida uma parafernália de equipamentos. Contudo estas introduções serão uma problemática no futuro das habitações dos novos bairros sociais ou de custo controlado. Poderão as famílias sustentar tais soluções, manutenções, obsolescências ou substituições próprias do passar dos tempos?
Problema é também o isolamento excessivo das habitações, passando a lhes ser exigidas “furações” de ventilação ou sistemas mecânicos para o efeito. As habitações encontram-se doentes pelas imposições normativas, levando-nos a questionar se a abundância de equipamentos e soluções construtivas serão um caminho sustentável.
Com o desenvolvimento de cálculos de carbono e descarbonização para justificar e temporizar, estamos a assumir o erro, porque sabemos à partida que é um excesso, caso contrário não faria sentido tal cálculo argumentativo. Benéfico é ponderarmos, consciencializarmos e enraizarmos que tudo vem de longe e de diversas direções, incorporando uma
marcante pegada ecológica em todas as fases do processo até à entrega final. Logo, quanto mais enquadrada for a solução à real necessidade e escala humana, menor será o volume em percurso e o respetivo custo ecológico, podendo estar aqui um importante passo na direção da sustentabilidade, devidamente enquadrado com um desenho de estratégia passiva.
Muitas dessas lições podem ser encontradas na arquitetura vernácula, ou popular, onde incorporavam materiais e soluções tendo em conta a economia de recursos, tanto na construção como na vida do edifício, resultado de épocas de pobreza. Atualmente tudo temos ao nosso dispor, mas a que preço? Será consciente e necessário tanto assim?
E esta lógica é transversal à cidade. O arquiteto urbanista Jan Gehl defendia a “vida entre edifícios”, porém a estrutura da cidade atual veio comprovar que afinal os edifícios é que estão entre a vida, desumanizando-a e impondo-lhe uma escala elástica até aos limites máximos possíveis.
Esta falta de humanização e a escala excessiva rompem a atmosfera e com ela a sustentabilidade emocional que se reflete na desapropriação e falta de identidade. E a sustentabilidade diária da cidade, em todas as suas escalas, depende da atitude das pessoas, necessitando de ser caminhada para ser vivida.
Todo o conceito de sustentabilidade pessoal, habitacional e da urbe depende da mudança de mentalidade e da essência da forma de estar e viver. As patologias não se resolvem com placebos ou soluções que se esperam milagrosas e as decorações verdes aleatórias mais não são do que cirurgias estéticas, decorando apenas o problema, tornando-o mais atrativo ao olhar. Permanecemos assim numa troca de peças de uma engrenagem que realmente tarda em ser substituída.
Publicado
Paulo Vila Verde
ARQUITECTO - INQUIETUDE ARQUITETURA
Participei há dias numa conferência que abordou a eficiência e a sustentabilidade do edifício à cidade, mas principalmente sobre pessoas e a qualidade das suas vidas e das atmosferas com que convivem. Fruto desse exercício, registo aqui algumas dessas reflexões.
Talvez o tema não esteja no ser sustentável, mas sim porque tem de o ser. Se tem de o ser é porque sabemos, à partida, que a solução consome demasiados recursos. Então porque não reduzir? Porque somos permanentemente incentivados, seja por regulamentos e pela própria sociedade, a consumir soluções tectónicas e tecnológicas.
Certo é, para que essa redução aconteça terá de existir uma vincada alteração de mentalidade pública, fazendo sentido o célebre “menos é mais”.
Mas porque tudo passou a ser maior? As casas, os espaços públicos, as infraestruturas, a cidade? Talvez a resposta esteja no modernismo rezado pela Carta de Atenas que promoveu uma ampla cidade, rejeitando a escala humana e onde tudo se sectorizou por funções, resultando na organização afastada das ações da cidade e acabando por fomentar a sua motorização para convenientemente se viajar entre pontos, fazendo os carros felizes. Surgiu talvez aqui a raiz do problema da sustentabilidade dos nossos dias.
A cidade passou a ser constituída por vias rápidas entre funções, espaços monofuncionais e grandes áreas de aglutinação automóvel, impondo o grande consumo de recursos, seja ele na produção das mega infraestruturas necessárias à mobilidade ou na permanente motorização das deslocações. Ou seja, se a cidade fosse uma habitação teria mais corredores longos do que áreas úteis onde se come, descansa ou socializa.
Se pensarmos no cerne da sustentabilidade concluímos o básico, o necessário, e a resolução em soluções pensadas à escala humana. Porém o “básico” leva-nos a abordar o ego do mercado, onde o “básico” não faz brilhar a solução, não promovendo o destaque do arquiteto ou do promotor numa capa de revista, o que por sua vez irá encher de orgulho os promitentes compradores ou utilizadores.
O termo “sustentabilidade” passou a ser marketing territorial e no edifício passou a ser carimbo de qualidade, publicitando-se recorrentemente a sustentabilidade da habitação justificada pela “classificação energética A” e apregoando-se de seguida uma parafernália de equipamentos. Contudo estas introduções serão uma problemática no futuro das habitações dos novos bairros sociais ou de custo controlado. Poderão as famílias sustentar tais soluções, manutenções, obsolescências ou substituições próprias do passar dos tempos?
Problema é também o isolamento excessivo das habitações, passando a lhes ser exigidas “furações” de ventilação ou sistemas mecânicos para o efeito. As habitações encontram-se doentes pelas imposições normativas, levando-nos a questionar se a abundância de equipamentos e soluções construtivas serão um caminho sustentável.
Com o desenvolvimento de cálculos de carbono e descarbonização para justificar e temporizar, estamos a assumir o erro, porque sabemos à partida que é um excesso, caso contrário não faria sentido tal cálculo argumentativo. Benéfico é ponderarmos, consciencializarmos e enraizarmos que tudo vem de longe e de diversas direções, incorporando uma
marcante pegada ecológica em todas as fases do processo até à entrega final. Logo, quanto mais enquadrada for a solução à real necessidade e escala humana, menor será o volume em percurso e o respetivo custo ecológico, podendo estar aqui um importante passo na direção da sustentabilidade, devidamente enquadrado com um desenho de estratégia passiva.
Muitas dessas lições podem ser encontradas na arquitetura vernácula, ou popular, onde incorporavam materiais e soluções tendo em conta a economia de recursos, tanto na construção como na vida do edifício, resultado de épocas de pobreza. Atualmente tudo temos ao nosso dispor, mas a que preço? Será consciente e necessário tanto assim?
E esta lógica é transversal à cidade. O arquiteto urbanista Jan Gehl defendia a “vida entre edifícios”, porém a estrutura da cidade atual veio comprovar que afinal os edifícios é que estão entre a vida, desumanizando-a e impondo-lhe uma escala elástica até aos limites máximos possíveis.
Esta falta de humanização e a escala excessiva rompem a atmosfera e com ela a sustentabilidade emocional que se reflete na desapropriação e falta de identidade. E a sustentabilidade diária da cidade, em todas as suas escalas, depende da atitude das pessoas, necessitando de ser caminhada para ser vivida.
Todo o conceito de sustentabilidade pessoal, habitacional e da urbe depende da mudança de mentalidade e da essência da forma de estar e viver. As patologias não se resolvem com placebos ou soluções que se esperam milagrosas e as decorações verdes aleatórias mais não são do que cirurgias estéticas, decorando apenas o problema, tornando-o mais atrativo ao olhar. Permanecemos assim numa troca de peças de uma engrenagem que realmente tarda em ser substituída.